No momento da morte do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, envio à sua família as mais sentidas condolências e ao povo amigo de Angola uma palavra de conforto pela partida de uma notável figura nacional.
José Eduardo dos Santos foi o meu principal interlocutor nas relações políticas com Angola durante o tempo em que exerci as funções de Primeiro-Ministro e de Presidente da República. Com ele mantive uma duradoura relação de confiança, que permitiu ultrapassar as dificuldades que marcavam as relações entre os nossos dois países nos anos 80 do século XX.
Portugal procurou dar um contributo para o fim da guerra civil que dilacerava a nação angolana. A assinatura dos Acordos de Bicesse, em 1991, em que participei com José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi e que culminou com um improvável aperto de mão entre ambos, e do Protocolo de Lusaka, em 1994, são momentos marcantes da minha vida política, na medida em que foram determinantes para atenuar o sofrimento e abrir um caminho de esperança ao povo angolano.
Na hora da sua partida, importa sublinhar sobretudo que José Eduardo dos Santos foi um artífice decisivo na construção da paz e da reconciliação nacional da nação angolana. Testemunhei o seu firme empenho pessoal e as decisões particularmente difíceis e complexas que tomou.
Com José Eduardo dos Santos, de inteligência fina, convincente na argumentação, sereno e sábio no uso da palavra, foi possível reforçar a cooperação entre Portugal e Angola.
Os alicerces dessa nova relação passaram a assentar no respeito mútuo que deve existir entre duas nações independentes e soberanas que partilham história comum de vários séculos e um património cultural e linguístico.
Da desconfiança, as duas nações soberanas chegaram à amizade e isso deve-se, em grande medida, a José Eduardo dos Santos. Neste momento de despedida, presto-lhe a minha homenagem.
Aníbal Cavaco Silva