Presidente Cavaco Silva na sessão de homenagem da Ordem dos Economistas a Eduardo Catroga

27.06.2023

Presidente Cavaco Silva na sessão de homenagem da Ordem dos Economistas a Eduardo Catroga

O Presidente Cavaco Silva esteve presente na sessão de Homenagem a Eduardo Catroga em que lhe foi feita a atribuição do título de Economista Emérito pela Ordem dos Economistas.

A sessão, na qual o Prof. Cavaco Silva fez uma intervenção de elogio do homenageado, teve lugar no ISEG. 

Reproduz-se o texto da intervenção:

EDUARDO CATROGA, ECONOMISTA EMÉRITO

É com uma certa emoção que regresso à escola onde me licenciei em Finanças em 1964 para desempenhar uma tarefa específica: fazer o elogio profissional de uma personalidade que muito prezo a quem a Ordem dos Economistas decidiu atribuir o título de Economista Emérito.

Eduardo Catroga é um caso muito particular no panorama português da gestão e da economia.

Tendo-se licenciado em Finanças na Faculdade em que nos encontramos, revelou-se um brilhante gestor empresarial, um conhecedor dos meandros da macroeconomia e demonstrou uma capacidade para colocar os seus conhecimentos ao serviço da prática política que a muitos surpreendeu.

O curriculum de Eduardo Catroga, como gestor empresarial, é verdadeiramente impressionante. A classe empresarial portuguesa reconheceu nele uma apurada visão estratégica e qualidades especiais de liderança, de direção, de negociação e de decisão, assim como capacidade de mobilizar os seus colaboradores e perspicácia na definição dos melhores caminhos para as empresas.

Com a idade de 31 anos foi nomeado administrador financeiro da CUF, o maior grupo privado da península ibérica onde trabalhava e se praticava uma gestão profissional moderna.

Oito anos depois, transferiu-se para a SAPEC como presidente executivo. Aí, confirmou a sua qualidade de gestor de excelência. Na SAPEC, Eduardo Catroga foi o impulsionador da grande reestruturação, da expansão internacional e da diversificação da atividade da empresa, tornando-a altamente rentável e criadora de valor para os acionistas.

Eduardo Catroga foi também convidado a desempenhar as funções de Chairman e membro de conselhos de administração noutras empresas nacionais e internacionais interessadas em beneficiar dos seus conselhos e orientação estratégica.

Foi o caso da Nutrinveste/Sovena, onde deixou a sua marca na transformação estratégica e internacionalização do grupo, e, foi o caso, do Banco Finantia, um banco de investimento especializado em que o seu conhecimento do mundo empresarial e da economia mundial foi um ativo importante.

Foi ainda o caso da EDP, onde desempenhou as funções de Chairman e de membro do Conselho Geral e de Supervisão num tempo em que o seu saber e visão foram relevantes para o desenvolvimento das energias renováveis.

Eduardo Catroga foi, indiscutivelmente, um dos melhores gestores empresariais do Portugal democrático.

Compreende-se assim que o ISEG, escola onde fora um aluno brilhante e assistente, tenha visto nele um ativo importante para a sua projeção e o tenha convidado para professor catedrático para, no mestrado em gestão, levar aos alunos os seus conhecimentos e a sua experiência nos campos da estratégia e do desenvolvimento empresarial.

No que respeita às suas missões cívicas ao serviço do País, estando em causa nesta cerimónia a atribuição a Eduardo Catroga do título de “Economista Emérito” pela Ordem dos Economistas, quero apenas destacar as suas qualidades de economista demonstradas no exercício das funções de Ministro das Finanças, durante 22 meses, entre dezembro de 1993 e outubro de 1995.

Eduardo Catroga deu prova de um domínio das questões económicas muito para além daquilo que é normalmente exigido a um Ministro das Finanças, surpreendendo os analistas pela sua sólida formação teórica e pela capacidade de utilização prática dos modelos e raciocínios da macroeconomia, em particular da política da estabilização económica.

Demonstrou ter bem claro na sua mente que, na situação em que o país se encontrava, era fundamental que a utilização dos instrumentos das políticas orçamental, monetária, cambial e de rendimentos fosse acompanhada por políticas estruturais, de modo a reforçar, numa perspetiva de médio e longo prazo, o crescimento potencial da economia, a produtividade, a eficiência económica e a competitividade das empresas.

Este seu conhecimento, aliado à experiência como gestor empresarial, foi da maior importância para Portugal ultrapassar as consequências da crise económica que se abateu sobre a UE em 1992 e 1993, o que fez dele um dos melhores ministros da Finanças do Portugal democrático.

Eduardo Catroga, como Ministro das Finanças, foi o impulsionador do relançamento da economia em bases sustentáveis, assente nos pilares da estabilidade do quadro macroeconómico e do aprofundamento das reformas estruturais do lado da oferta orientadas para a melhoria da produtividade e da competitividade, a que juntou uma gestão adequada das expectativas e o reforço do clima de confiança dos agentes económicos.

Os seus conhecimentos da teoria da política económica foram a garantia de uma recuperação saudável da economia portuguesa, liderada pelas exportações e pelo investimento produtivo, a que a que se seguiu a expansão do consumo.

O seu contributo foi decisivo para que, em 1995, Portugal apresentasse internacionalmente índices de boa saúde económica e financeira e estivesse na trajetória certa para integrar o grupo dos países fundadores da Zona Euro.

No domínio da prática política, Eduardo Catroga foi um economista que não receou passar a escrito as suas ideias, propostas e análises, distinguindo-se daqueles que se limitam a meras intervenções verbais ou declarações jornalísticas para que a falta de rigor e a incoerência inter-temporal das posições assumidas sejam apagadas pela passagem do tempo.

Nos anos recentes, os portugueses têm conhecido Eduardo Catroga mais como economista do que como gestor.

Em livros e artigos publicados e em conferências e entrevistas disponibilizou aos leitores análises pertinentes e de qualidade sobre questões relevantes da economia portuguesa, europeia e mundial. Os seus escritos tratam de matérias tão diversas como a política orçamental, o crescimento económico, o investimento direto estrangeiro, as políticas monetárias do Banco Central Europeu e de outros bancos centrais, a União Monetária Europeia e a coordenação e supervisão das políticas económicas dos Estados-membros, a resposta europeia à crise económica da Covid19 e os fenómenos da globalização internacional e dos ciclos económicos.

É por tudo isto que comecei por afirmar que Eduardo Catroga era um caso muito particular no panorama nacional da gestão empresarial e da economia.

Não me recordo de um destacado gestor empresarial português que se compare com Eduardo Catroga em matéria da intervenção intensa e de qualidade no domínio da economia, e também não me recordo de um economista que, como ele, se tenha afirmado como gestor empresarial de excelência

Encontro, assim, uma dupla razão para que a Ordem dos Economistas homenageie o meu amigo de longa data, Eduardo Catroga, e lhe conceda o título de “Economista Emérito”.

É um ato de plena justiça, a que, com muita honra, me associo.

Obrigado.