Entrevista do Prof. Cavaco Silva ao Público na ocasião dos 50 anos do PSD

08.05.2024

Entrevista do Prof. Cavaco Silva ao Público na ocasião dos 50 anos do PSD

O Prof. Cavaco Silva concedeu uma entrevista ao do Público, na ocasião dos 50 anos da fundação do PSD.

Como vê e que leitura faz da evolução política do PSD nestes 50 anos?

Em minha opinião, o que mais se destaca nos 50 anos do PSD é a coerência e a estabilidade das suas grandes linhas de orientação política, uma imutabilidade que não foi afetada pelo exercício do poder ou da oposição, nem pelas mudanças de líder.

É o caso da defesa para Portugal da liberdade e da democracia de tipo ocidental, do respeito da vontade livre do povo expressa através do voto, do império da lei e do Estado de direito, da dignidade e realização da pessoa humana, do sentido de solidariedade e justiça social.

É também a defesa da igualdade de oportunidades, da liberdade de imprensa e da independência da comunicação social, da via reformista para a transformação da sociedade e resolução dos problemas estruturais do país, da economia de mercado, assente na livre iniciativa privada e na valorização da sociedade civil.

É ainda a defesa do projeto europeu e da nossa integração europeia, das relações privilegiadas com os países de expressão portuguesa e da social-democracia moderna que, como Francisco Sá Carneiro afirmou, “reúne o melhor dos valores do liberalismo e da justiça social”.

Tudo isto sem ignorar o papel que cabe ao Estado de promover a satisfação das necessidades sociais, a equidade na distribuição do rendimento e a estabilização económica.

Considera que o PSD é um partido de matriz rural?

O que distingue a família social-democrata, os militantes e simpatizantes do partido, não é a origem das suas raízes, o continente ou as ilhas, o campo, a cidade, a vila ou a aldeia, o interior ou o litoral, a planície ou a serra.

O que distingue a face humana do partido é o interclassismo. Nele se juntam em defesa dos princípios e valores da social-democracia operários, trabalhadores rurais, pescadores, empresários, agricultores, comerciantes, funcionários públicos, de instituições sociais e do setor privado, artistas, cientistas, profissionais liberais, jovens e idosos, numa convergência de ideias sobre o futuro de Portugal e na esperança de concretização dos seus sonhos pessoais.

Recordo que a primeira sessão de esclarecimento que fiz nos primórdios do PSD sobre o projeto social-democrata, a pedido da direção do partido, foi para uma assistência de pequenos comerciantes de Lisboa numa sala no Largo do Rato.

Como vê o futuro do PSD? Acha que o PSD enquanto grande partido português está ameaçado por partidos de extrema-direita? Se sim, o que deve fazer para combater essa ameaça?

Como Sá Carneiro nos ensinou, acima do partido está sempre o interesse nacional. Eu acredito, verdadeiramente, que a social-democracia moderna e europeia é a resposta certa para os problemas de Portugal. Como tal, na medida em que o PSD saiba aplicar os princípios da social-democracia – em especial a justiça social, a igualdade de oportunidades e o reformismo – e cumprir as suas promessas aos portugueses, acredito que os resultados serão positivos e que os portugueses reconhecerão o trabalho do partido.

Creio que o PSD deve continuar a lutar pela realização das mudanças exigidas a cada momento pela aproximação de Portugal aos países mais desenvolvidos da União Europeia e pela melhoria sustentável das condições de vida e das justas aspirações dos portugueses, seja no Governo, na Assembleia da República, nas regiões autónomas ou nas autarquias e, assim, no futuro continuará a ser um grande partido português, tal como se verificou ao longo dos seus primeiros 50 anos.