APDC homenageou Ex-Presidente Aníbal Cavaco Silva

26.09.2018

APDC homenageou Ex-Presidente Aníbal Cavaco Silva

A APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações homenageou o ex-Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, por ocasião do seu 28.º Congresso, designando-o Sócio Honorário da instituição. Conforme destacado pelo Presidente da APDC, Prof. Doutor Rogério Carapuça, na sua intervenção, o Prof. Cavaco Silva marcou presença em 5 congressos da APDC enquanto Presidente da República.

O Prof. Cavaco Silva proferiu, na ocasião, uma breve intervenção:

“Breves palavras para agradecer, sensibilizado, a distinção que a APDC decidiu fazer-me neste seu 28.º Congresso. A nomeação para sócio honorário só encontra justificação na atenção que, como Presidente da República, prestei ao sector das Comunicações e Tecnologias de Informação como elemento decisivo de transformação das economias e das sociedades.

Faz em Dezembro onze anos que falei, pela primeira vez, no Congresso da APDC. Era o 17.º Congresso. Como é apanágio de um sector que tem na inovação a sua pedra de toque, realidades que não se imaginavam então tomaram forma e foram desenhando o presente e o futuro.

Ao longo dos anos, os Congressos da APDC afirmaram-se como um evento marcante no sector das Comunicações e Tecnologias de Informação, contribuindo para a impressionante dinâmica que o sector tem registado em Portugal. A APDC pode orgulhar-se do contributo dado para que Portugal disponha hoje de um sector moderno, eficiente, inovador e competitivo.

O 28º Congresso é a prova de quão acertada foi a iniciativa da APDC e quão pertinentes têm sido as discussões sobre um dos sectores que tem visto maior transformação nas últimas décadas, influenciando toda a estrutura social e económica.

Mas devemos estar atentos aos perigos que a mudança comporta. Falei deste assunto em 2015, quando me dirigi pela última vez ao Congresso na qualidade de Presidente da República. Hoje, ao lado dos extraordinários benefícios que o desenvolvimento das modernas tecnologias de comunicação e informação trouxeram às sociedades, é preciso pensar nos maus usos, nos atropelos e nos abusos na sua utilização. A hiperconexão e a nova era digital levantam problemas graves de privacidade e de segurança e mesmo de ativismo político subversivo que não podem ser ignorados.

Os perigos que novas formas de manipulação representam para a democracia são já evidentes na sequência de resultados eleitorais que se sabem terem sido influenciados de forma premeditada.

As sociedades são vulneráveis às fake news. As notícias falsas, plantadas na comunicação social e nas redes sociais, são um meio que pode ser utilizado para surtir efeitos perversos na sociedade. As notícias falsas podem, num par de segundos, chegar a milhões de pessoas. Há hoje forte preocupação de que países terceiros possam minar com notícias falsas a realidade europeia e ocidental e as nossas instituições.

Uma questão que me parece fundamental e à qual os especialistas devem responder é a seguinte: como é que a tecnologia pode ajudar a impedir ou pelo menos a minorar as ameaças à liberdade e à democracia? Este é, creio, o grande desafio da atualidade. Compatibilizar o desenvolvimento tecnológico com o quadro de valores que consubstanciam a sociedade livre que construímos no Ocidente.

Não tenho dúvidas de que é no quadro da inovação que se joga o futuro da nossa economia e o desenvolvimento do País. É na qualidade dos sistemas de comunicações que assenta boa parte do nosso sucesso e por isso precisamos de empresas que apostem nas novas tecnologias.

Julgo, contudo, que devemos ter presente que vivemos num inédito período de paz na Europa. Isso não acontece por acaso. Acontece porque o projeto da União Europeia permitiu sobrepor aquilo que une os povos europeus a séculos de disputas territoriais. Um projeto comum de bem-estar social e económico que superou todas as expectativas e que muitos insistem em colocar em causa através de discursos marcados pela xenofobia, pelo nacionalismo e pelo ódio.

Cabe a cada um, no vasto mundo das comunicações em que se insere, contribuir para preservar os valores que alicerçam a nossa convivência europeia. Não por saudosismo, mas porque não devemos dar nada por garantido. Muito menos a liberdade, a democracia e o respeito pelos direitos humanos que são a pedra angular do projeto europeu.

Renovo o meu agradecimento pela atribuição de qualidade de sócio honorário da APDC.

Muito obrigado.”

(Fotos: APDC)