Foi com enorme tristeza que tomei conhecimento da morte do Prof. Diogo Freitas do Amaral, um dos construtores de uma democracia pluripartidária em Portugal. Foi, a par de Mário Soares e de Francisco Sá Carneiro, um defensor convicto de uma democracia de tipo ocidental no pós-25 de Abril.
Fui seu colega no governo da Aliança Democrática presidido por Sá Carneiro. Como Vice Primeiro-Ministro, Freitas do Amaral contribuiu para a execução de uma política coerente de desenvolvimento económico e social do País. Foi também notável a sabedoria com que assumiu transitoriamente a chefia do Governo da Aliança Democrática após a morte do líder social-democrata em 1980.
Estas circunstâncias levaram-me a defender ativamente a sua candidatura independente às eleições presidenciais de 1986. O meu apoio fundou-se no reconhecimento de que Freitas do Amaral tinha uma vontade firme de apoiar a concretização de um projeto de mudança para Portugal assente nos princípios da democracia, da libertação da sociedade civil e nos valores fundamentais da justiça social e da solidariedade. Manteve-se como um espírito livre e fez questão de sublinhar o seu europeísmo quando, em 1992, então deputado independente, votou a favor da ratificação do Tratado de Maastricht.
No momento da sua partida, cumpre recordar em Freitas do Amaral, além do ilustre académico, o homem dedicado à causa pública, que desempenhou com grande dignidade e dedicação funções do maior relevo, entre as quais a de Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1995 e 1996, prestigiando Portugal e demonstrando uma vez mais as suas extraordinárias qualidades políticas e pessoais.
Em meu nome pessoal e no da minha mulher, dirijo à família do Prof. Freitas do Amaral uma palavra de profundo pesar.
Aníbal Cavaco Silva