Prof. Cavaco Silva proferiu Palestra Anual Alexis de Tocqueville do IEP-UCP

09.03.2018

Prof. Cavaco Silva proferiu Palestra Anual Alexis de Tocqueville do IEP-UCP

O ex-Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, proferiu a Palestra Anual Alexis de Tocqueville, a convite do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Nesta ocasião, em que foram entregues os diplomas e prémios do Instituto de Estudos Políticos e que teve lugar no Auditório Cardeal Medeiros, o Prof. Cavaco Silva proferiu algumas palavras antes de entrar no tema da sua Palestra, “Portugal e o Aprofundamento da Integração Europeia”:

“Neste ano em que celebramos os 50 Anos da Universidade Católica Portuguesa, instituição à qual tenho a honra de estar vinculado há muitos anos, quero começar esta minha intervenção com uma palavra especial de saudação que, na pessoa da Senhora Vice-Reitora, dirijo a todos os alunos, professores e funcionários que diariamente tornam esta instituição merecedora de reconhecimento.

A Católica está de parabéns pelos contributos que tem dado a Portugal nas mais diversas áreas do saber, a partir de uma cultura de exigência e de excelência académica.

Agradeço ao Instituto de Estudos Políticos e em particular ao Prof. João Carlos Espada, o convite para ser o orador nesta Cerimónia de Entrega de Diplomas e Prémios do Instituto. Felicito-o pelo seu empenho pessoal na promoção em Portugal dos grandes ideais e das grandes figuras da democracia liberal, como acontece com a Palestra Anual que recebe o nome de um dos seus principais teóricos, Alexis de Tocqueville.

Antes de abordar o tema que escolhi, e quase em jeito de esclarecimento provocatório, alerto para que não se espere uma lição teórica digna do ilustre pensador político que dá nome à Palestra.

Saliento aliás que, se os meus 21 anos de exercício de cargos políticos poderão contrastar com os 5 meses de Tocqueville no governo francês, não se pode retirar daqui que, no meu caso, o pensamento político tenha suplantado o pensamento do economista.

Para não desencorajar os que terminam o curso e entram agora na vida profissional, não vou alimentar a tensão entre a teoria e a prática, uma vez que estou convencido de que estas se complementam.

Direi, apenas a título de exemplo, que compartilho com Tocqueville – o teórico – a defesa da liberdade de imprensa como fundamental para o pleno exercício da democracia. É verdade que Tocqueville, naqueles efémeros 5 meses, viu o governo em que participou limitar precisamente a liberdade de imprensa. Presumo que não tenha apreciado, o que poderá explicar em parte o abandono da vida política.

Tendo sido os meus Governos os responsáveis pela privatização da comunicação social nacionalizada no período revolucionário e pelo fim do monopólio público da televisão através da abertura dos canais privados, tenho neste particular um especial sentimento de dever cumprido.

Mas, se o exercício prático é sempre mais complexo do que a teoria que aprenderam no vosso curso, não devem desistir de a aplicar ao longo do percurso profissional, se a teoria for de facto boa.

Tenho aliás repetido em diversas ocasiões e desde há já algum tempo, que a realidade acaba muitas vezes por derrotar a ideologia. Pelo que é importante que se trabalhem sobretudo as teorias que têm cabimento na realidade.

Deixo-vos por isso, justamente antes de entrar no tema que escolhi para esta palestra – e em que já não mencionarei Tocqueville, mas um outro Alexis que, na Grécia, teve de se adequar à realidade e abandonar a ideologia – uma palavra de encorajamento para a nova fase das vossas vidas e a uma palavra de felicitações pelos vossos resultados académicos.”

O texto da Palestra Anual Alexis de Tocqueville será publicado na revista Nova Cidadania do IEP-UCP.

(Fotos: José Guerra/IEP-UCP)