Prof. Cavaco Silva na abertura da I Academia Calvão da Silva

22.02.2019

Prof. Cavaco Silva na abertura da I Academia Calvão da Silva

O ex-Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, deslocou-se a Coimbra para participar na I Academia Calvão da Silva, organizada pela Juventude Social Democrata de Coimbra, que teve lugar na Quinta das Lágrimas. 

O ex-Presidente esteve presente na Sessão de Abertura, na qual proferiu uma intervenção.

“Felicito a JSD de Coimbra por, através da sua Academia Política, promover uma justa homenagem ao Prof. Calvão da Silva, um académico de excelência, um social-democrata moderno a quem o PSD muito deve, um homem de carácter, de princípios e valores.

Fui um beneficiário político do partido que Calvão da Silva, como militante e dirigente, contribuiu para fazer grande, forte e próximo dos anseios dos portugueses, um partido com vocação de governo, guiado, no exercício do poder, pelo critério do interesse nacional.

Sem a vitalidade e a pujança do PSD, sem o entusiasmo, a generosidade e a dedicação dos militantes e simpatizantes, mobilizados e unidos em torno do objetivo de fazer Portugal um país moderno e mais justo, avançando firmemente na aproximação ao nível do desenvolvimento dos países da União Europeia, eu não teria sido Primeiro-Ministro durante dez anos, dispondo de maioria absoluta. Não esqueço o que devo ao PSD.

Permitam-me que faça uma citação do discurso que proferi há 20 anos, em 1999, na celebração do vigésimo quinto aniversário do partido:

“O PSD é um partido bem português, com raízes profundas em todos os segmentos da nossa sociedade, que foi capaz de se adaptar à inovação e às mudanças que os novos tempos foram trazendo.

“Um partido ao qual a democracia portuguesa e o progresso económico, social e cultural do País muito devem”.

“Um partido que nasceu para ser grande, não como objetivo em si, mas para melhor servir os interesses do País. Um partido de militantes e não apenas de votantes, militantes generosos, que não voltam a cara às dificuldades e não prescindem de fazer ouvir a sua voz.” Fim de citação.

Recordo este trecho em reconhecimento do que devo ao PSD que eu conheci e aos seus militantes e simpatizantes. Em 1999 o PSD estava na oposição e era ano de eleições. Era líder do Partido José Manuel Durão Barroso e Primeiro-Ministro do Governo Socialista António Guterres. Nesse meu discurso de 1999, depois de recordar muito daquilo a que se assistira em quase quatro anos de governação do Partido Socialista, incluindo a degradação das instituições alicerces do Estado democrático, a gravidade da situação no sector da saúde e as injustiças sociais, concluí desta forma e passo a citar:

“À medida que se consome o tempo da governação socialista e se torna mais difícil manter a anestesia dos cidadãos, o País perde, as gerações futuras perdem, quando o governo é incapaz de tomar decisões e adia tudo o que é estrutural e que prepara o futuro, quando se governa ao sabor de títulos de jornal e ao sabor do vento […].

“Quantas vezes nos vem à memória a frase de Sá Carneiro na cerimónia de tomada de posse como Primeiro-Ministro: «a opinião da comunicação social não é a opinião nacional; não nos deixaremos determinar pela comunicação social. Governaremos de acordo com o critério do interesse nacional, não governaremos com a comunicação social.»

“O rigor, a exigência na governação, o imperativo ético do cumprimento das promessas feitas é um legado de Sá Carneiro a que teimosamente nos mantemos fiéis. Um legado que se sobrepõe a qualquer mestria na arte de iludir os cidadãos, de prometer sem nunca cumprir, de cativar as boas graças da comunicação social”.

“Para os sociais-democratas a preservação do poder não é um objetivo em si. Há princípios e valores a respeitar.” Fim de citação.

Passaram 20 anos sobre estas palavras.

A vida partidária não será a vertente mais importante da vida de Calvão da Silva. Mas não é irrelevante que tenha dado o seu contributo no PSD.

Calvão da Silva, como outros, contribuiu ativamente para fazer do PSD um partido grande com uma vocação intrínseca para a concretização do interesse nacional através do exercício do poder, um partido em que a solidariedade e a justiça social caminham a par da primazia da livre iniciativa privada.

Um partido com vocação para fazer reformas estruturais e para tomar decisões difíceis e não virar a cara às dificuldades.

Calvão da Silva, como outros, contribuiu ativamente para fazer do PSD um partido com capacidade de falar e ser ouvido pelos Portugueses, de cativar mais pessoas e atento aos anseios dos jovens, capaz de apresentar soluções para o País.

Soluções que valorizem o contributo da sociedade civil e deem um novo horizonte aos Portugueses, que devolvam a confiança nas instituições, que recuperem a capacidade dos serviços públicos de servir bem os cidadãos, que coloquem Portugal numa rota de convergência real com a União Europeia e, sobretudo, que permitam reencontrar o caminho da justiça social e da mobilidade social.

Calvão da Silva, que sempre se guiou pela ambição de fazer mais e melhor, não deixaria de ficar chocado ao ouvir vozes de satisfação relativamente ao crescimento da economia, quando Portugal continua a ser ultrapassado pelos países do centro e leste europeu em termos de desenvolvimento, medido pelo rendimento per capita, e quando, entre os 19 países da Zona Euro, só a Letónia e a Grécia ainda estão atrás de nós. Por este caminho, mais ano menos ano, Portugal será a lanterna vermelha do pelotão da Zona Euro e, então, pode faltar-nos o ânimo para recuperar e cair “na saudade negativa, espécie de profunda melancolia”, como escreve o professor Jorge Dias em “Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”. Compete aos jovens impedir que isso aconteça.

Nos primeiros anos do século XXI, até à minha eleição para Presidente da República, mantive uma colaboração académica com o Prof. Calvão da Silva que muito contribuiu para a nossa aproximação pessoal.

Foram várias as vezes que me desloquei a Coimbra a convite de Calvão da Silva para dar uma lição sobre matérias da minha especialidade ao curso de pós-graduação sobre Direito Bancário, da Bolsa e dos Seguros da Faculdade de Direito por ele coordenado. Era com muito gosto que o fazia.

As deslocações a Coimbra foram também uma oportunidade para conversas com Calvão da Silva sobre a situação do País nas suas diversas dimensões, incluindo a política, assim como sobre a atualidade internacional.

Estas conversas tiveram continuidade durante o meu tempo de Presidente da República, nos encontros familiares que regularmente mantivemos no Algarve, em Agosto.

Eram conversas agradáveis e interessantes. Calvão da Silva era uma pessoa bem informada sobre os problemas do País e a atividade político-partidária e dotado de boa capacidade de análise. Ouvi-lo era para mim um enriquecimento.

Perante o convite de seu filho João Nuno Calvão da Silva para estar hoje aqui e intervir nesta iniciativa da Academia Política da JSD de Coimbra, escolhi fazê-lo voltando ao tema que dominou as lições que, a convite de Calvão da Silva, proferi na Faculdade de Direito: A União Europeia e o seu núcleo duro, a Zona Euro. (…)”

Fotos: JSD Coimbra