Uma despedida
Quando, na semana passada, li o artigo “Não é uma despedida” do arquiteto José António Saraiva, desconhecendo em absoluto que se encontrava doente, tomei a iniciativa de lhe escrever um cartão – coisa raríssima na minha relação com os jornalistas –, que provavelmente não chegou a receber. Sublinhei a esperança de que não fosse de todo uma despedida e que pudéssemos contar com a sua prosa afiada no futuro.
A mãe de José António Saraiva foi minha professora no Instituto Comercial de Lisboa, facto que sempre recordava com graça e que, de alguma forma, nos aproximava. Com o seu estilo cartesiano, o arquiteto Saraiva marcou o jornalismo em Portugal – no Expresso, como director, e no Sol, como fundador e director.
Por vezes polémico e arrojado nas suas crónicas, era habitualmente sensato e rigoroso. Procurava extrair uma conclusão lógica de um conjunto de factos, algo que, parecendo simples, não é frequente. A sua qualidade como jornalista testemunhei-a não só na leitura dos seus textos, mas também nas várias entrevistas que lhe concedi durante a minha vida política.
O texto de José António Saraiva foi, afinal, uma despedida. Lamento sinceramente a sua partida. A sua voz experiente, profundamente conhecedora da História política recente do nosso País, fará falta.
Aníbal Cavaco Silva